Produtores rurais ligados à Polifeira da UFSM enfrentam desafios na produção, no deslocamento e nas vendas

Produtores rurais ligados à Polifeira da UFSM enfrentam desafios na produção, no deslocamento e nas vendas

Foto: Beto Albert (Diário)

Queijos, alfaces, doces, ovos e batatas são alguns dos produtos que saem da terra do produtor rural e chegam a Santa Maria para comercialização nas terças e quintas-feiras na Polifeira do Agricultor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Contudo, com as chuvas intensas entre o final de abril e maio de 2024, a produção foi bastante afetada. A reportagem do Diário percorreu propriedades para conversar com participantes do projeto sobre o impacto da enchente no trabalho do dia a dia.

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Desde abril de 2017, a Polifeira busca fazer o intermédio dos produtores e comunidade. O projeto se iniciou com 17 agricultores. Atualmente, são 32 famílias que participam, mas nem todas se fazem presentes nas feiras de terças e quintas. Muitos agricultores se inscrevem nos editais, recebem as visitas técnicas da universidade para aptidão, mas chegam ao espaço da feira por meio de vizinhos ou amigos, que levam os itens para a venda direta:

– A nossa ideia é de que o produtor tenha protagonismo. Ele que produziu e sabe como foi feito. O espaço da Polifeira é para ele vender diretamente para o consumidor. Os nossos alunos e professores também auxiliam e participam com aulas, visitas técnicas e muita troca entre eles. Todo mundo aprende – conta Cristiano Dotto, atual coordenador do projeto.

No distrito de Arroio Grande, Irineu Zenone Orlandi, 72 anos, trabalha com o genro Jorge Fontana, 49 anos. Segundo ele, o espaço físico ocupado nos últimos dias, no campus de Camobi, foi simbólico, apenas para marcar presença, visto que boa parte dos produtos foram perdidos por conta das chuvas. A alface, que antes era robusta, teve de ser unida em poucas folhas, do que sobrou, para formar um pé:

– O Jorge foi para fazer presença porque ele foi com pouca coisa, foi com quase nada porque não tem. Sabemos que é importante porque o freguês percebe que fizemos presença. Não estamos conseguindo produzir. Vamos com um pouquinho de mandioca, um pouco de batata. Não vale a pena financeiramente, pelas poucas coisas, mas vamos pela presença.

Foto: Beto Albert (Diário)

Impacto na renda

Júlio César Correa Carvalho, 49 anos, está no projeto desde o começo. Na propriedade dele e de sua esposa, Jusane Turri, 44 anos, os principais produtos são queijo, mel e ovos. A água que subiu de um arroio próximo entrou na casa. O local destinado para a produção fica em um espaço mais alto, por isso, não foi diretamente afetado. No entanto, duas pontes que dão acesso à casa de Júlio e Jusane caíram, na localidade de Arroio Lobato, no distrito de Arroio Grande, o que ocasionou na passagem comprometida:

– Entrou água na nossa casa e estragou móveis. O que prejudicou muito foram os acessos, nossas estradas. No local foram embora quatro pontes. Até a nossa propriedade, eram duas. Quando chove, demora a baixar aquela água do arroio, então ficamos sem acesso. Isso impacta porque a gente precisa ter receita. Temos compromisso, precisamos fazer pagamentos, não estamos conseguindo cumprir porque não conseguimos vender.

Foto: Beto Albert (Diário)

De impacto na receita bruta, Júlio conta que são R$ 20 mil por semana. Ele explica que boa parte dos esforços foram depositados na manutenção da propriedade, como alimentação para os animais. No aviário, conforme explica Jusane, a intensidade da chuva invadiu o espaço. Mas esse não foi o principal desafio:

– Entrou água no primeiro dia, não tivemos problemas maiores e a produção de ovos caiu um pouco nesses primeiros dias. O que tivemos que lidar foi quando ficamos sem luz e água, então tínhamos que fazer muito esforço para manter nossos animais alimentados. Nosso principal problema eram os mantimentos, que, com a queda das pontes, não chegam até aqui.

Além disso, Jusane explica que há valores que precisam ser pagos aos bancos, mas que sem dinheiro retornando, por conta da queda na produção, são dívidas que devem se acumular. Antes, eles costumavam fazer feira em cinco dias na semana. Durante 27 dias, em maio, conseguiram sair para vender apenas quatro vezes.

Foto: Beto Albert (Diário)

Anderson Rossi, 31 anos, começou a participar do projeto neste ano, mas trabalha com produção rural por influência da família. Morador de Toropi, a dificuldade principal era a falta de acesso. A BR-287 foi liberada apenas no último dia 21. Por conta disso, na terça (28), foi a primeira vez que Anderson conseguiu retornar ao espaço conhecido da Polifeira para comercialização:

– A infraestrutura da propriedade não foi tão afetada porque trabalhamos com uva e ela está agora no período de dormência. O que aconteceu foi a perda de nutrientes no solo e a questão do acesso a Santa Maria.

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Olho no olho

É unânime. Todo produtor questionado sobre a importância da Polifeira na sua venda responde que é fundamental comercializar direto para a comunidade:

– Temos a oportunidade de fazer a comercialização direta aqui. Somos um empreendimento pequeno e não conseguimos, por exemplo, vender para um supermercado, precisaríamos ter uma produção muito grande. Nós conseguimos obter algum lucro porque a nossa venda é direta. É disso que a gente sobrevive e por isso é tão importante – explica Júlio.

O vice-diretor do Colégio Politécnico da UFSM, Moacir Bolzan, explica que o trabalho neste momento é auxiliar os produtores:

– Nós sabemos que a Polifeira tem uma abrangência, um propósito no começo, mas infelizmente, com esses eventos climáticos, temos prejuízos e um estado de ânimo abalado. Dentro do possível, temos que refazer esse estado de ânimo e também ajudar dentro daquilo que as condições permitem. Estamos mantendo contato com os produtores. Passado esse acolhimento inicial vamos examinar e colocar mais forças à disposição, ajuda psicológica, orientação com mudas, no que for preciso.

Polifeira

  • O quê – Polifeira do Agricultor
  • Quando – nas terças, das 7h às 12h30min, e nas quintas, das 13h às 17h30min
  • Onde – nas terças, entre a Faixa Velha e a Faixa Nova de Camobi, e nas quintas, no Largo do Planetário

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